Paralelamente a todo
o avanço tecnológico desta segunda metade do século XX, o inconsciente coletivo
da humanidade jamais deixou de estabelecer uma ligação entre a cura e o
potencial transcendente de fé.
Apesar das pressões do pensamento
materialista, nossa Sabedoria Interior persistiu acreditando numa dimensão
maior do que a realidade em que estamos mergulhados. Hoje, a própria
Organização Mundial de Saúde define o conceito de saúde como “O bem-estar
físico, emocional, mental e espiritual do ser humano”.
No alvorecer do
terceiro milênio, finalmente admitimos que somos seres espirituais vivendo num
plano material. Esta verdade inegável nos foi ensinada, há dois mil anos atrás,
por Aquele que, dentro do pensamento cristão, foi o Maior Terapeuta de todos os
tempos: O Mestre Jesus.
As curas por Ele realizadas levam-me a
refletir sobre os requisitos básicos para que a saúde se restabeleça em nosso
organismo e sobre qual a nossa parcela de responsabilidade neste processo.
Convido você, leitor, para que de agora em diante, se delicie comigo em tão
Sublime Companhia, buscando através do próprio inconsciente, nas entrelinhas
deste texto, as memórias que as palavras
deixam escapar, pois sabemos que tudo o que pudermos escrever, ainda é muito
pouco diante de tudo que nos foi ensinado por Ele... Mas esta é uma percepção
inconsciente. A partir de agora, vamos, conscientemente, desvelar os sentidos
ocultos que se perderam através dos tempos e resgatar estes preciosos conhecimentos:
OS CONCEITOS DE TERAPÊUTICA, CURA E FÉ:
Procurando de alguma forma situar-me
objetivamente num assunto tão complexo, busquei compreender o próprio conceito
de Terapeuta
e Terapêutica. No Dicionário Etimológico Nova
Fronteira, na página 764, encontrei assim definido: Terapêutica: “O estudo e a
prática dos meios adequados para aliviar ou curar os doentes”. Em seu sentido
filosófico, o Terapeuta é o “Curador de Almas”.
Em relação ao conceito de cura, encontrei, na mesma obra, na página
234, o sentido de “ter cuidado, livrar da doença.” Observei que, para o mesmo termo, havia ainda outros
sentidos, tais como “cura”, o padre de uma paróquia e “curador”, aquele que se
responsabiliza e cuida dos bens de outro, que por algum motivo se encontra
incapacitado de fazê-lo”. Tais
correlações conduziram-me a pesquisar o significado de fé. Na página 351 do referido dicionário, encontrei os sinônimos confiança,
crédito, autenticidade, sinceridade.”
Lembrei-me, ainda, de que o termo fé, com este significado, é com freqüência
utilizado também no sentido jurídico de confiabilidade e autenticidade. A partir da
compreensão desses termos, comecei a me indagar sobre a correlação existente
entre a fé e o processo de cura.
AS CURAS DO MESTRE
JESUS:
Todos
os Textos Sapientais da Humanidade, por terem sido canalizados ou inspirados
por uma Fonte Superior, utilizam a linguagem metafórica como forma de tradução
da Sabedoria Suprema. Embora tenhamos que levar em consideração que muitos
termos usados nos textos sagrados estabelecem comparações passíveis de serem
compreendidas pelas pessoas da época, como os termos lunático ( termo simbólico para
designar a loucura) e endemoniado
(diábolos significa obstáculo; nossas falhas de personalidade que funcionam
como impedimentos internos ao processo evolutivo), hoje eles fazem
sentido a partir do conceito de Inconsciente e dos modernos conhecimentos da
Psiconeurolinguística. Pesquisando o Novo Testamento, reuni alguns relatos,
objetivando encontrar a chave de compreensão dos processos de cura realizados
pelo Mestre Jesus:
O PARALÍTICO DE CAFARNAUM
( Mateus 9.2-8)
E,
entrando no barco, passou para a outra banda, e chegou à sua cidade. E eis que
lhe trouxeram um paralítico deitado numa cama.
2
E Jesus, vendo a fé deles, disse ao paralítico: Filho, tem bom ânimo;
perdoados te são os teus pecados.
3
E eis que alguns dos escribas diziam entre si: Ele blasfema.
4
Mas Jesus, conhecendo os seus pensamentos, disse: Por que pensais mal em vossos
corações?
5
Pois qual é mais fácil? Dizer: Perdoados te são os teus pecados, ou dizer:
levanta-te e anda?
6
ora, para que saibais que o Filho do homem tem na terra autoridade para
perdoar pecados (disse então ao paralítico): Levanta-te; toma a tua cama e
vai para tua casa.
7
E levantando-se, foi para sua casa.
8
E a multidão, vendo isto, maravilhou-se, e glorificou a Deus, que dera tal
poder aos homens.
A CURA DE DOIS CEGOS E UM MUDO
(Mateus 9.27-34)
27
e partindo Jesus dali, seguiram-no dois cegos, clamando e dizendo: Tem compaixão
de nós, filho de Davi.
28
E, quando chegou a casa, os cegos se aproximaram dele; e Jesus disse-lhes: Credes vós que eu possa fazer
isto? Disseram-lhe eles: Sim, Senhor.
29
Tocou então os olhos deles, dizendo: Seja-vos feito segundo a vossa fé.
30
E os olhos se lhes abriram. E Jesus ameaçou-os, dizendo: Olhai que ninguém o
saiba.
31
Mas tendo ele saído, divulgaram a sua fama por toda aquela terra.
32
E, havendo-se eles retirado, trouxeram-lhe um homem mudo e endemoniado.
33
E, expulso o demônio, falou o mudo; e a multidão se maravilhou, dizendo: Nunca
tal se viu em Israel.
34
mas os fariseus diziam: Ele expulsa os demônios pelo príncipe dos demônios.
A MULHER CANANÉIA COM A FILHA
ENDEMONIADA
(Mateus 15.21-28)
21
E, partindo Jesus dali, foi para as partes de Tiro e de Sidon.
22
E eis que uma mulher cananéia, que saíra daquelas cercanias, clamou, dizendo:
Senhor, Filho de Davi, tem misericórdia de mim, que minha filha está
miseravelmente endemoniada.
23
Mas ele não lhe respondeu palavra. E os seus discípulos, chegando ao pé dele,
rogaram-lhe, dizendo; Despede-a, que vem gritando atrás de nós.
24
E ele, respondendo, disse: Eu não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa
de Israel.
25
Então chegou ela, e adorou-o, dizendo; Senhor, socorre-me.
26
Ele, porém, respondendo, disse: Não é bom pegar no pão dos filhos e deitá-lo
aos cachorrinhos.
27
E ela disse: Sim, Senhor, mas também os cachorrinhos comem das migalhas que
caem da mesa dos seus senhores.
28
Então respondeu Jesus, e disse-lhe: Ó mulher! Grande é a tua fé; seja
isso feito para contigo como tu desejas. E desde aquela hora a sua filha
ficou sã.
A CURA DUM LUNÁTICO
(Mateus 17.14-21)
14
E, quando chegaram à multidão, aproximou-se-lhe um homem, pondo-se de joelhos
diante dele, e dizendo:
15
Senhor, tem misericórdia de meu filho, que é lunático e sofre muito; pois
muitas vezes cai no fogo, e muitas vezes na água;
16
E trouxe-o aos teus discípulos; e não puderam curá-lo.
17
E Jesus, respondendo, disse: Ó geração incrédula e perversa! Até
quando estarei eu convosco, e até quando vos sofrereis? Trazei-mo aqui.
18
E repreendeu Jesus o demônio, que saiu dele, e desde aquela hora o menino
sarou.
19
Então os discípulos, aproximando-se de Jesus em particular, disseram: Por que
não pudemos nós expulsá-lo?
20
E Jesus lhes disse: Por causa da vossa pouca fé; porque em verdade vos digo que, se tiverdes
fé como um grão de mostarda, direis a este monte: passa daqui para acolá - e há
de passar; e nada vos será impossível.
21
Mas esta casta de demônios não se expulsa senão pela oração e pelo jejum.
Como podemos observar, ora as curas ocorreram pela
transmutação do padrão de negatividade mantenedor do sintoma, ora como prova de
ação do Poder Divino de que Jesus estava investido, como no caso da cura do
cego de nascença, e que, segundo o Plano Divino, era preciso demonstrar:
A CURA DE UM CEGO
(João 9.2-40)
1 E, passando Jesus, viu um homem cego de
nascença.
2
E os seus discípulos lhe perguntaram, dizendo; Rabi, quem pecou, este ou seus
pais, para que nascesse cego?
3
Jesus respondeu; Nem ele pecou nem seus pais; mas foi assim para que se
manifestem nele as obras de Deus.
4 Convém que eu faça as
obras daquele que me enviou, enquanto é dia; a noite vem, quando ninguém pode
trabalhar.
5
Enquanto estou no mundo, sou a luz do mundo.
6
Tendo dito isto, cuspiu na terra, e com a saliva fez lodo, e untou com o lodo
os olhos do cego.
7 E disse-lhe: Vai,
lava-te no tanque de Siloé (que significa o Enviado). Foi pois, e lavou-se, e
voltou vendo.
Como
cada um dos versículos bíblicos é passível de cerca de 75 diferentes
interpretações, dentro das várias filosofias religiosas e dada a complexidade
do tema, não pretendo aprofundar-me mais
no assunto, preferindo, antes, continuar a refletir sobre a correlação entre fé
e cura, observando que esta é uma constante nos relatos das atividades
terapêuticas do Mestre Jesus, o que implica diretamente na participação e
responsabilidade do doente (doente, dolente, o que manifesta dor,
magoado, lamentoso, lastimoso – pág. 275 do Dic. Nova Fronteira) para
que a sua saúde se restabeleça.
Jean-Yves Leloup, Psicólogo Transpessoal e
Teólogo, em seu livro “O Espírito na Saúde”, assim se refere ao Mestre, como
Terapeuta: “Jesus é um terapeuta que tem mãos e pede a seus discípulos
que imponham as mãos sobre os doentes. Na tradição dos Antigos há um texto que
também é encontrado no Evangelho de Tomé, o qual nos diz que temos uma mão na
nossa mão. E esta é uma palavra da qual precisamos nos lembrar quando
acompanhamos um doente. Porque temos a nossa mão, com o seu conhecimento e a
sua competência, mas através dessa mão flui a grande mão da Vida.
Jesus
cuidava também dos doentes através de sua saliva. Jesus toma sua saliva,
mistura-a à lama e coloca-a sobre os olhos dos cegos. Este não é somente um
belo símbolo deste sopro, desta energia misturada à lama, que vai curar o cego
e dar a ele a visão de tudo o que existe. Há também uma abordagem física que é
necessário ser aprofundada.
Jesus
trata os doentes com suas mãos, com sua saliva e também com suas lágrimas.
Entre os últimos conselhos que dá a seus discípulos, lhes diz para impor as
mãos aos doentes e mergulhá-los na água. O termo “batismo”, baptisma em grego,
quer dizer mergulhar na água. A qual água Ele se refere? Há uma água que
purifica e limpa o corpo, mas há também a água das lágrimas que purifica e
limpa o corpo em seu interior.
(...)
Foram feitas pesquisas recentes sobre as lágrimas. Em cada uma delas existe
como que uma condensação do nosso estado físico e do nosso estado psíquico. No
momento em que deixamos as lágrimas correrem, os nós se dissolvem. Não se
trata, é claro, de choramingar, mas de transformar o nosso coração de pedra em
coração de carne.
(...)
Esta experiência das lágrimas pode se reportar tanto a um acontecimento triste
e doloroso quanto a uma maravilhosa alegria. (...) Os Antigos dizem que estas
lágrimas nos lavam de nossas memórias e isto é verdadeiro porque todo o nosso
sofrimento está inscrito em nosso corpo. As lágrimas têm, pois, uma função de
purificação e de limpeza. Este batismo de lágrimas é uma prática terapêutica
que Jesus conhecia bem.
Quando
Jesus despertava, naqueles que encontrava, um coração de pedra, ou um coração
fechado pelo medo e pela recusa, este coração se liqüefazia no amor. Por isso
dizemos que Jesus era um Terapeuta no sentido físico do termo.
Jesus
era também um Terapeuta da alma e da psique. Ele transformava as pessoas em
seres capazes de perdão. Perdoar é parar de identificar o outro com as
conseqüências negativas de seus atos e pararmos de nos identificar com as
conseqüências negativas de nossos atos. Esta é a própria função do terapeuta.
Diante de alguém que está fechado em suas memórias e fechado no encadeamento de
causas e efeitos de seus atos, é preciso recolocá-lo em marcha na direção da
vida.
O
ensinamento de Cristo é um convite à caminhada, a ir mais longe, a não se
fechar no destino da doença, no destino social. Trata-se, pois, de reabrir a
nossa capacidade de ir mais longe.
Jesus
é também terapeuta no sentido espiritual do termo, no momento em que ensina
seus discípulos a orar. Orar não é (apenas) recitar preces mas entrar em
relação e em intimidade com a própria fonte do seu ser. Esta fonte do ser que,
às vezes, Jesus chamava de Pai.
Então
Jesus mostrava-se Terapeuta ao ensinar que pela prece o homem podia religar-se
à sua fonte. Sabe-se que muitos sofrimentos e doenças ocorrem porque o homem se
sente cortado da fonte do seu ser, cortado do seu desejo essencial, cortado do
desejo essencial da vida que corre através dele. Quando ele se religa a esta
fonte (que é Deus), a cura pode ocorrer. Esta cura ocorre também na comunidade,
cada um na religião que é a sua, através do provar de sua própria fonte.”
OS TERAPEUTAS DE
ALEXANDRIA, NO PRIMEIRO SÉCULO DA ERA CRISTÃ:
Sabendo
da estreita ligação entre o Mestre Jesus, os Essênios e outras comunidades da
época, busquei também na história, dados que me levassem a compreender como se
processava a atuação terapêutica nos primórdios do Cristianismo. Tal
empreendimento conduziu-me á comunidade dos Terapeutas que viviam em
Alexandria, já no primeiro século da era cristã, constatando uma perfeita
sintonia entre o procedimento terapêutico do Mestre e o dessa antiga
comunidade.
No
prefácio do livro Cuidar do Ser, de autoria de Jean-Yves Leloup, Roberto Crema,
também Psicólogo e Antropólogo, assim define os Terapeutas:
“Os Terapeutas eram, sobretudo, hermeneutas, habilitados na arte da
interpretação do Livro das Escrituras, da Natureza e do Coração, dos sonhos e
dos eventos da existência. Não se reduzindo a meras explicações analíticas,
esta hermenêutica objetivava desvelar o sentido orientador, já que a única dor
insuportável, segundo Leloup, é aquela que não somos capazes de interpretar,
destituída de qualquer sentido.” (...) “os terapeutas liam as Escrituras como
textos do inconsciente. Por outro lado, consideravam as enfermidades
suscetíveis de uma interpretação, como se constituíssem textos sagrados.
A
tarefa considerada primordial para os Terapeutas era cuidar, já que é a
Natureza quem cuida. Antes de tudo, cuidar do que não é doente em nós, do Ser,
do Sopro que nos habita e inspira. Também cuidar do corpo, templo do Espírito,
cuidar do imaginal, das grandes imagens arquetípicas que estruturam a nossa
consciência e cuidar do outro, o serviço à comunidade, implicando o próprio
centramento no Ser.”
Segundo
Jean-Yves Leloup, “o terapeuta é também um ser “que sabe
orar” pela saúde do outro, isto é, chamar sobre ele a presença e a energia do
Vivente, pois só ele pode curar toda doença,
com a qual ele “coopera”. O terapeuta não cura, ele ‘cuida”, é o Vivente
que trata e que cura. O Terapeuta está lá apenas para pôr o doente nas melhores
condições possíveis para que o Vivente atue e venha a cura.(...) Saúde plena,
para os Terapeutas, refere-se ao corpo, à alma e ao nous (psique) quando são
habitados pelo Espírito; é a transparência do essencial no existencial.”
Em
outra passagem de seu belíssimo livro, Jean-Yves, acrescenta:
“Pertencer aos Terapeutas é antes de
tudo mudar de hábito, revestir-se de “linho”. (...) Mudar de roupa, que
simboliza a ação ou pertença social, para vestir hábitos de contemplação, que
simbolizarão a pertença a Grande Natureza ou a Deus, não tem influência só
sobre o corpo, mas também sobre o psiquismo. Ao lado de sua roupa de trabalho e
de sua roupa de festa, o Terapeuta deve tecer (simbolicamente sem dúvida, mas
também concretamente) para si um “hábito de contemplação” , que lembrará a ele
sua vocação, não de “ser para a morte”, mas de “ser para a Eternidade”.
E
Leloup continua: “Pertencer aos Terapeutas não era
somente mudar de roupa, era também mudar de cozinha. “Não mais alimentar-se de
cadáveres”. “A pessoa torna-se aquilo que come”. (...) O que está em nosso
prato é nosso melhor médico”; cuidar do corpo sem levar em consideração o que o
nutre é simplesmente uma falta de bom senso.(...) O essencial não é tanto o que
se come quanto a maneira como se comer. “Consumir ou comungar” está à nossa
escolha em nossa relação com o mundo e com a matéria.”
“(...)
o Terapeuta cuidava dos “deuses” , que eram as imagens pelas quais o homem
representava para si o Absoluto, imagens múltiplas do Ser único. Os deuses são
também os Valores que orientam e desenvolvem a vida;(...) o Belo, o Verdadeiro,
o Bom. Cuidar dos deuses é vigiar as grandes imagens que habitam em nós, os
arquétipos que nos guiam para o melhor ou o pior de nós mesmos. (...) ele (o
terapeuta) vigiará para que nosso imaginário e nosso imaginal estejam
alimentados das imagens o mais estruturantes possível, e para ele estas imagens
encontram-se antes de tudo na Bíblia, sendo cada personagem bíblico um
arquétipo cuja evocação pode facilitar a caminhada da alma.”
Nesta
simbologia, Maria representa o nosso lado virginal, que acolhe o Espírito
Santo; Pedro é o arquétipo da dúvida, dos momentos de falta de fé; Judas
representa o nosso lado que trai, após sentir-se decepcionado em suas
expectativas e Jesus é o arquétipo da manifestação de nosso Cristo Interno.
“Estando
a saúde (e sem dúvida também a felicidade) na harmonia pacífica de nosso
comportamento com o nosso desejo mais íntimo, não é nenhuma surpresa que os
terapeutas “cuidem do desejo”. Não se trata de estimulá-lo nem de destruí-lo,
mas de reorientá-lo quando ele está perdido”.
Aí estamos nas raízes do que mais tarde se chamará de ética, ou ainda de
moral. Sabemos que a palavra pecado, em grego, quer dizer errar o alvo, visar
algo e não atingi-lo. Assim o pecado é antes de tudo uma doença do desejo, uma
desorientação ou uma perversão de sua “mira”. (...)
Não adorar nada, pois toda realidade, relativa
por definição, não é absoluta; não desprezar nada, pois toda realidade,
relativa pelo próprio fato de sua existência, participa da Única Fonte de todo
Real. Nem desprezo nem idolatria, este seria o começo de uma atitude justa com
respeito ao mundo e o que nele habita, quando o desejo é orientado” ou
“polarizado” para a própria Fonte de tudo o que vive e respira.
Assim,
para os Terapeutas, a cura psíquica está ligada ao conhecimento metafísico.
O
Terapeuta é também aquele que cuida do outro pela oração, e isso não deixa de
ter ligação com a reorientação do desejo, já que rezar é estar religado à Fonte
do Real. (...) Chamar o nome do “Ser que É” sobre alguém é religá-lo também à
sua Fonte de Vida, reconduzi-lo ao campo do Real, a partir do qual ele poderá,
senão sarar, pelo menos relativizar seu sofrimento. Para o Terapeuta, portanto
orar não é tanto recitar preces e invocações, mas ter seu ser no Ser a fim de
que sua Presença se difunda ou se interiorize através dele na pessoa
mal-aventurada.(...) Não existe saúde que não seja ao mesmo tempo salvação(
este é o sentido etimológico da palavra). Além do mais, em grego é a mesma
palavra: soteria. No grego dos evangelhos encontramos Jesus dizendo: “Tua fé de
salvou” ou “tua fé te curou”.
O PROCESSO DE
CURA, HOJE:
Acredito
que o mais importante, neste estudo, seja a compreensão de como o processo de
cura opera em nosso organismo, com base em nosso estado mental. A partir dos
modelos ou arquétipos registrados em nosso inconsciente, comandos bioquímicos
irão influenciar o funcionamento de todos os órgãos, quer no sentido positivo
ou no sentido negativo. Sabemos que o hipotálamo, a estrutura cerebral que
centraliza as emoções, rege, também, os mecanismos de fome, sede, sono, sexo,
temperatura e pressão arterial, estabelecendo-se, assim, uma correlação direta
entre o estado emocional e a regulação destas funções orgânicas.
Pensamentos negativos produzem emoções
como raiva, tristeza, medo, dor e ansiedade, promovendo descargas de energia
que afetam o meio bioquímico do organismo, através da hipófise, por sua vez
produzindo sintomas que nada mais são do que um meio de esvaziar-se das
tensões. Daí a importância de que o Terapeuta, enquanto tradutor da linguagem
do inconsciente, compreenda a mensagem expressa pelo sintoma.
Dentro do conhecimento metafísico,
existem ainda dois conceitos extremamente importantes para que alcancemos a
cura: Carma e Momentum. O sentido da palavra Carma, compreendida como Destino ( Sucessão de fatos que podem ou não
ocorrer (por influência do livre arbítrio de cada um), e
que constituem a vida humana, considerados como resultantes de causas
independentes da sua vontade; lugar aonde se dirige alguém; Direção – pág. 172
do Mini Dic. Aurélio) não é de predestinação ao sofrimento, como algo
de que não podemos escapar, mas significa a missão, a nossa tarefa pessoal e
intransferível de redenção (aquilo que produzimos inadequadamente, enquanto
seres co-criadores com Deus, por nós mesmos deverá ser eliminado - esta é a
perfeita Lei Divina). Através do despertar de nossas consciências para o
verdadeiro sentido da vida, podemos realizar uma transmutação do carma (A mudança
de polaridade de uma carga energética, da condição negativa para a condição
positiva; a transformação do negativo em positivo, em qualquer contexto.)
O conceito de Momentum
refere-se ao padrão de energia que acumulamos no pretérito, como um mau hábito
instalado em nossa Individualidade ou Essência, que se expressa através da
Personalidade, na forma de comportamentos negativos, nem sempre conscientes.
Estes padrões mentais atrapalham o bom andamento de nossas vidas ou contribuem
para a manifestação de doenças orgânicas. Por isso o Terapeuta Maior diz: “Vá e
não peques mais”, ou seja: não te desvies mais do caminho; cumpre as
Leis do Pai; não produzas mais energia negativa com o teu pensamento; não erres
mais o alvo; o alvo da própria aprendizagem e evolução segundo as Leis Divinas,
que é o único destino possível ao homem. Somos todos seres predestinados a
evoluir e alcançarmos o Ideal Crístico, o modelo arquetípico da Mente de Deus
para cada Ser Humano, criado a sua Imagem e Semelhança.
Não
há porque alongar-me mais nestas reflexões. Na verdade, tudo que era
necessário, já nos foi ensinado. Agora é tempo de prática; é tempo de
vigilância e oração. “Orai e Vigiai”, Ele nos disse.
Vamos, pois, despertar o nosso Cristo Interno, recolhendo-nos ao Templo do
nosso próprio corpo, onde, em cada célula, ainda ressoam preciosas lições...
SUELI MEIRELLES, Consultora, Professora, Pesquisadora
e Especialista em Psicologia Clínica – CRP 05/11601 – MBA em Implementação e
Gestão de Projetos na Abordagem Transdisciplinar. Escritora e Palestrante.
Autora de Artigos e Livros sobre Desenvolvimento Humano, Saúde Integral,
Ecologia Integral e Educação para a Paz.
BLIBLIOGRAFIA DO ESTUDO:
(para aqueles que se interessarem em aprofundar o tema)
Tradição Sapiental da Humanidade A Bíblia Sagrada
Imprensa Bíblica Brasileira.(trad. João Ferreira de Almeida.
CREMA, Roberto Saúde e Plenitude Summus Editorial. SP
CUNHA, Antônio Geraldo da
Dicionário Etimológico Ed.
Nova Fronteira. SP
DE BIASE, Francisco Caminhos da Cura Ed. Vozes. RJ
GROF, Stanislav Emergência Espiritual Cultrix. SP
LELOUP, Jean-Yves Cuidar do Ser Vozes. RJ
________________ Caminhos
da Realização Vozes.RJ
________________ e outros Espírito na Saúde Vozes RJ
MEIRELLES, Sueli Do Divã à Espiritualidade: ATH –
Abordagem Transdisiciplinar Holística em Psicoterapia. São Paulo, Idèias
& letras, 1996.
_______________. Linguística para Mediação de Conflitos:
pessoais, familiares, profissionais e sociais. E-Book Paraná: Nextmídia,
2017.
______________. Projeto Consciência da Vida – A Infância
Parceria Editorial RJ
SAPALDING, Baird T A Vida dos Mestres Expressão e Cultura. RJ