Então o Ser que era uma Estrela uniu-se ao Ser de manto
violeta e juntos começaram a recordar o sonho. Como num filme, a multidão ia
vendo e ouvindo tudo porque, naquele local, as idéias eram coisas de que são
sombras as coisas que se vêem na Terra.
Eles
recordaram o sonho, sim: o sonho duma nova idade de ouro na Terra. A multidão
ia vendo uma Terra com seres vitoriosamente livres, com seres pensando, sentido
e agindo sem estarem presos às aparências, às formas, aos sentidos ou ao
turbilhão sempre mutável dos fenômenos e das situações. A multidão ia vendo uma
Terra cheia de seres que se amavam, que verdadeiramente se amava. A multidão ia
vendo uma Terra cheia de seres que sabiam – que verdadeiramente sabiam – porque
existiam, para que existiam e como existir. Via uma Terra cheia de homens em
harmonia e união entre dois, entre vários, entre muitos, entre todos. Via uma
Terra com governos que cumpriam o destino da vontade de Deus e todas as nações
da Terra agrupadas. Via uma Terra cheia de paz, porque o homem compreendia a
mulher e a mulher o homem; os pais compreendiam os filhos e os filhos os pais;
o empregado amava o patrão e o patrão o empregado. Nenhum colega, nenhum
vizinho, nenhuma cidade, nenhum país queria passar à frente do outro.
Os
seres sonhavam e a multidão ia vendo uma Terra sem males e sem doenças porque
os homens já não estragavam tudo, as suas vidas estavam em ordem e as leis de
Deus e da Natureza eram obedecidas; uma terra sem crueldades onde já ninguém
dizia “o problema é teu” ou “cada um por si” ou “quero lá saber”; onde já
ninguém decepcionava o sorriso inocente das crianças; onde ninguém traía o amor
puro do próximo; onde ninguém zombava das fraquezas alheias; onde ninguém
julgava pelas aparências; onde os que viam mais longe eram acarinhados e
justamente valorados.
Os dois Seres (o que era uma Estrela e o
do manto violeta) iam sonhando e a multidão ia vendo. Via uma Terra cheia de
consolação, de simpatia e de humildade porque todos sabiam que todos eram
divinos. Via uma Terra cheia de perdão e de misericórdia. Via uma Terra cheia
das mais belas obras, de artistas inconcebíveis (que não existem ainda na
Terra, mas apenas no Céu). Via uma Terra cheia de verdade, de pureza e de
devoção ao que é bom e justo.
Os
dois Seres sonhavam e via-se uma Terra sem fome nem sede (de bebida, de comida
ou de justiça) porque todos eram bons e altruístas e sabiam que eram irmãos,
deuses e filhos do Altíssimo. Via os homens serem justos entre si, para com os
irmãos animais, plantas e para com tudo quanto existe. Não havia falsas
justiças nem hipocrisias nem fingimentos: todos tinham percebido que quem faz
mal, fá-lo mais a si do que a qualquer outro.
Via-se
uma Terra onde os homens, os anjos e os elementais dançavam de mãos dadas. Onde
havia gratidão e amor espontâneos para todos. Onde havia magos do bem, da luz
(e só do bem e da luz). Onde havia a inocência das crianças e a prudência dos
adultos.
Os
seres sonhavam ainda com uma Terra sem dor e sem luto. Com uma Terra sem morte porque todos os
homens sabiam que a vida não tem fim.
A
multidão via uma Terra com seres cheios de luz de todas as cores puras e
claras, uma Terra cheia de Luz que se via lá longe, lá longe nos outros
planetas.
Os
Seres (o que era uma Estrela e o Ser violeta) sonhavam e a multidão via tanta
coisa mais, tanta coisa mais e, além disso, tudo o resto e, além disso, tudo...
Então,
ouviu-se o som contínuo dum órgão tocando um acorde que era o acorde da Terra.
Todos se sentiram vibrar e a Terra soava, emitia, clamava para o Cosmos.
(Mestre Francisco de Assis – As Novas
Escrituras -Volume I - O Livro do Amanhã - Capítulo III - Centro Lusitano de
Unificação Cultural)
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