Sou
uma jovem em idade de se casar, mas ainda estou solteira. Moro com meus pais na
Galiléia. Como filha mulher, não tenho permissão para dirigir a palavra a meu
pai; posso apenas responder ao que ele me pergunta. Também não tenho permissão
para estudar a Torá (o Livro Sagrado dos Judeus) nem entrar no templo. Somente
os homens podem fazê-lo. Por isso minha curiosidade em relação aos aspectos
sagrados da vida é grande. Sempre que posso, procuro ouvir o que os homens
conversam, para aprender um pouco. Também não sei ler, nem escrever.
Às
vezes os homens conversam sobre o Rabino Joshua, que caminha pelos campos
abertos, falando do Inominado como seu pai, para todos aqueles que queiram
ouvi-lo.
Procuro
descobrir onde encontrá-lo, e sigo com outras mulheres. Todas aquelas que, como
eu, querem beber das Palavras Sagradas, mas não têm permissão para isso, por
nossa condição feminina.
Encontramos
o Mestre num campo próximo da cidade, ao entardecer, pregando numa pequena
elevação natural, para que todos possam vê-lo. De forma muito simples, as
pessoas sentam-se à sua volta, enquanto, mansamente, os rebanhos de ovelhas
continuam a pastar.
A
Presença do Mestre é doce e amorosa. De uma amorosidade imensa que faz transbordar
os nossos corações, preenchendo-nos com o desejo de aprendermos a amar da mesma
forma, e de transmitirmos este amor também à nossa volta, como ele faz. É
contagiante! Sua Presença irradia uma quietude; uma mansidão que a tudo
permeia, e parece penetrar em cada célula dos nossos corpos. Toda a sua figura
imprime doçura e firmeza às suas palavras, que traduzem, com fidelidade, as
Verdades Divinas que ele tão bem conhece em seu coração. É uma sabedoria que só
pode ser transmitida por aqueles que têm a certeza originada pela experiência
vivida. Ele não fala apenas palavras; ele nos descreve situações, como se
contasse memórias, com riquezas de exemplos e detalhes. Nestes encontros, sua
voz nos fala ao coração, que permanece calado, bebendo da Água Viva que mata
todas as sedes. Somente quem tenha vivido estes encontros pode saber realmente,
o que se sente e, algumas dessas sensações não podem ser traduzidas em
palavras. Ele nos fala de outro tipo de mundo, do “Reino de Deus”, onde as
pessoas se amam e se respeitam, cuidando dos animais e de toda a natureza.
Nos
seus comentários, os homens dizem que talvez ele seja um líder revolucionário
que possa libertar os Judeus da tirania dos Romanos. Acho que eles nunca o
ouviram falar!... Como um Rabino de olhar tão doce iria comandar uma guerra?...
Não consigo entender isso, mas não posso perguntar-lhes, guardando para mim
mesma as minhas indagações. Por isso quando chega o tormentoso dia de sua
crucificação, como já contei no relato anterior, a angústia se torna imensa.
Além do sofrimento, por nós e por Ele, o sonho de um mundo melhor começa a se
desmanchar. Por isso, pior do que vê-lo na cruz; pior do que ver o seu sangue
derramado no chão, e depois, sendo levado pela água do temporal; pior do que
tudo isso, pela nossa ignorância e egoísmo, é a sua ausência; a falta que a Sua
Doce Presença nos faz; a falta do alimento para os nossos espíritos sedentos de
explicações e famintos de amor. O que vamos fazer agora, ao entardecer, sem o
Doce Mestre para nos ensinar?... A vida parece ter perdido o seu encanto,
retornando à rudeza desse tempo sem piedade, quando o ser humano ainda vale tão
pouco!...
Hoje,
quando reabro estas memórias, entendo que naquele tempo, nós, pessoas simples
do povo, não tínhamos informações nem conhecimento da grandiosidade de tudo o
que acontecera. Podíamos apenas sentir esta grandiosidade, através do imenso vazio
que parecia ter ficado no mundo. Hoje sei que somente os seus discípulos mais
chegados sabiam o que estava ocorrendo. E até que hoje, eu pudesse resgatar
esta informação, havia uma grande tristeza e um grande sentimento de perda em
meu coração; havia também um choro contido em minha garganta, porque, tolhidos
pelo medo dos soldados romanos, nós, seus anônimos discípulos (principalmente mulheres)
não podíamos expressar nossos sentimentos, porque isto equivaleria a uma
confissão de que compartilhávamos daquela “seita” proibida, infringindo as leis
judaicas e romanas.
Naquele
momento, não podíamos entender que, como todo movimento natural, as sementes do
Cristianismo haviam sido plantadas na terra fértil de cada coração que se abriu
para recebê-las. E, creiam, foram milhares! Naquele momento não poderíamos
sequer imaginar que as sementes ocultas em cada coração, iriam se transformar
na grande e frondosa árvore do Cristianismo, que vemos hoje, com todas as suas
ramificações (tantas quantas são as verdades compreendidas por cada coração que
é tocado por esta milagrosa semente).
Em
minha semente pessoal, ainda tenho a esperança de que todas as outras sementes
(e hoje são bilhões) possam novamente ser tocadas por Ele. Pelo Doce Mestre Joshua,
para que a sua Presença desça sobre todos nós, trazendo a Terra o tão desejado
“Reino dos Céus”.
Nota:
Este é um relato de memórias transpessoais vivenciado em consultório, em
regressão expontânea.
Sueli Meirelles - Pesquisadora de Fenômenos Psico-espirituais. WhatsApp: 55 (22) 99955-7166
Nenhum comentário:
Postar um comentário