quarta-feira, 30 de março de 2016

MEMÓRIAS DA PAIXÃO DE CRISTO II - Conto Transpessoal


                Sou uma jovem em idade de se casar, mas ainda estou solteira. Moro com meus pais na Galiléia. Como filha mulher, não tenho permissão para dirigir a palavra a meu pai; posso apenas responder ao que ele me pergunta. Também não tenho permissão para estudar a Torá (o Livro Sagrado dos Judeus) nem entrar no templo. Somente os homens podem fazê-lo. Por isso minha curiosidade em relação aos aspectos sagrados da vida é grande. Sempre que posso, procuro ouvir o que os homens conversam, para aprender um pouco. Também não sei ler, nem escrever.
                Às vezes os homens conversam sobre o Rabino Joshua, que caminha pelos campos abertos, falando do Inominado como seu pai, para todos aqueles que queiram ouvi-lo.
                Procuro descobrir onde encontrá-lo, e sigo com outras mulheres. Todas aquelas que, como eu, querem beber das Palavras Sagradas, mas não têm permissão para isso, por nossa condição feminina.
                Encontramos o Mestre num campo próximo da cidade, ao entardecer, pregando numa pequena elevação natural, para que todos possam vê-lo. De forma muito simples, as pessoas sentam-se à sua volta, enquanto, mansamente, os rebanhos de ovelhas continuam a pastar.
                A Presença do Mestre é doce e amorosa. De uma amorosidade imensa que faz transbordar os nossos corações, preenchendo-nos com o desejo de aprendermos a amar da mesma forma, e de transmitirmos este amor também à nossa volta, como ele faz. É contagiante! Sua Presença irradia uma quietude; uma mansidão que a tudo permeia, e parece penetrar em cada célula dos nossos corpos. Toda a sua figura imprime doçura e firmeza às suas palavras, que traduzem, com fidelidade, as Verdades Divinas que ele tão bem conhece em seu coração. É uma sabedoria que só pode ser transmitida por aqueles que têm a certeza originada pela experiência vivida. Ele não fala apenas palavras; ele nos descreve situações, como se contasse memórias, com riquezas de exemplos e detalhes. Nestes encontros, sua voz nos fala ao coração, que permanece calado, bebendo da Água Viva que mata todas as sedes. Somente quem tenha vivido estes encontros pode saber realmente, o que se sente e, algumas dessas sensações não podem ser traduzidas em palavras. Ele nos fala de outro tipo de mundo, do “Reino de Deus”, onde as pessoas se amam e se respeitam, cuidando dos animais e de toda a natureza.
                Nos seus comentários, os homens dizem que talvez ele seja um líder revolucionário que possa libertar os Judeus da tirania dos Romanos. Acho que eles nunca o ouviram falar!... Como um Rabino de olhar tão doce iria comandar uma guerra?... Não consigo entender isso, mas não posso perguntar-lhes, guardando para mim mesma as minhas indagações. Por isso quando chega o tormentoso dia de sua crucificação, como já contei no relato anterior, a angústia se torna imensa. Além do sofrimento, por nós e por Ele, o sonho de um mundo melhor começa a se desmanchar. Por isso, pior do que vê-lo na cruz; pior do que ver o seu sangue derramado no chão, e depois, sendo levado pela água do temporal; pior do que tudo isso, pela nossa ignorância e egoísmo, é a sua ausência; a falta que a Sua Doce Presença nos faz; a falta do alimento para os nossos espíritos sedentos de explicações e famintos de amor. O que vamos fazer agora, ao entardecer, sem o Doce Mestre para nos ensinar?... A vida parece ter perdido o seu encanto, retornando à rudeza desse tempo sem piedade, quando o ser humano ainda vale tão pouco!...
                Hoje, quando reabro estas memórias, entendo que naquele tempo, nós, pessoas simples do povo, não tínhamos informações nem conhecimento da grandiosidade de tudo o que acontecera. Podíamos apenas sentir esta grandiosidade, através do imenso vazio que parecia ter ficado no mundo. Hoje sei que somente os seus discípulos mais chegados sabiam o que estava ocorrendo. E até que hoje, eu pudesse resgatar esta informação, havia uma grande tristeza e um grande sentimento de perda em meu coração; havia também um choro contido em minha garganta, porque, tolhidos pelo medo dos soldados romanos, nós, seus anônimos discípulos (principalmente mulheres) não podíamos expressar nossos sentimentos, porque isto equivaleria a uma confissão de que compartilhávamos daquela “seita” proibida, infringindo as leis judaicas e romanas.
                Naquele momento, não podíamos entender que, como todo movimento natural, as sementes do Cristianismo haviam sido plantadas na terra fértil de cada coração que se abriu para recebê-las. E, creiam, foram milhares! Naquele momento não poderíamos sequer imaginar que as sementes ocultas em cada coração, iriam se transformar na grande e frondosa árvore do Cristianismo, que vemos hoje, com todas as suas ramificações (tantas quantas são as verdades compreendidas por cada coração que é tocado por esta milagrosa semente).
                Em minha semente pessoal, ainda tenho a esperança de que todas as outras sementes (e hoje são bilhões) possam novamente ser tocadas por Ele. Pelo Doce Mestre Joshua, para que a sua Presença desça sobre todos nós, trazendo a Terra o tão desejado “Reino dos Céus”.

Nota: Este é um relato de memórias transpessoais vivenciado em consultório, em regressão expontânea.

Sueli Meirelles - Pesquisadora de Fenômenos Psico-espirituais. WhatsApp: 55 (22) 99955-7166



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